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quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Mercados

Ibovespa sobe 13,4%, mas não convence - Valor Economico
Daniele Camba29/10/2008
Já virou rotina ver a bolsa subir ou cair muito, corrigindo tudo e mais um pouco da variação do dia anterior, mas na mesma intensidade. Ontem foi mais um pregão nesse estilo. O Índice Bovespa começou em alta de mais de 6%, praticamente anulando a queda de 6,50% da segunda-feira. No fim do dia, o movimento se acentuou e o índice fechou com alta de 13,42%, aos 33.386 pontos. A prova de que o mercado não tem mais certeza de nada e que, com a mesma facilidade que sobe hoje, cai amanhã, é recente. No dia 13 deste mês, o Ibovespa teve uma alta de 14,66% e, 48 horas depois, no dia 15, caiu 11,39%. Portanto, não é pessimismo dizer que o desempenho de ontem alivia, mas não conforta, e muito menos convence.

Esse tipo de oscilação esquizofrênica do mercado também não agrada os analistas, principalmente porque não existem fundamentos econômicos consistentes que justifiquem mudanças tão repentinas. "Um mercado de extremos como o atual não tem correlação nenhuma com a realidade, seria muito melhor que a bolsa estivesse mais calma, com uma tendência linear, sem os sobressaltos que se têm visto diariamente", diz o gerente de pessoa física da Corretora Gradual, Evandro Soeiro Campos. Se esse sobe-e-desce assusta investidores institucionais com anos de janela, o que dizer das pessoas físicas, muitas delas estreantes em bolsa?
"A cada alta ou queda dessa magnitude, os clientes pessoas físicas ligam, totalmente perdidos", diz Campos. O lado positivo desse momento, se é que existe algum, é que, diferentemente do que aconteceu na turbulência brasileira de 2002, os investidores locais não estão vendendo as ações. "Eles não fazem novas aplicações, mas também aprenderam que esta não é a hora de sair, vendendo as ações a preços bem mais baixos do que quando compraram", afirma o gerente da Gradual.
Todas as 66 ações do Ibovespa fecharam ontem em alta. Os dez papéis que mais subiram tiveram valorizações acima de 20%, algo também pouco racional para um dia sem notícias positivas retumbantes. Recentemente, não foram raros os dias em que todas elas encerraram o pregão no vermelho.
Apesar do comportamento errático, justificativas não faltam para a euforia de ontem. A principal delas é a expectativa em torno das decisões com relação às taxas de juros dos EUA e do Brasil, ambas marcadas para hoje. Ontem, o mercado de títulos de renda fixa americanos indicavam 60% de chance de o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) fazer um corte de meio ponto percentual e os outros 40%, de a queda ser de 0,75 ponto. Já com relação ao Brasil, uma parte dos analistas defende que não há a menor condição do Comitê de Política Monetária (Copom) continuar com o processo de aperto monetário, com a possibilidade de uma grande desaceleração em vias de bater na porta da economia mundial.

Também há uma explicação técnica para a valorização do mercado brasileiro ter sido maior do que das demais bolsas pelo mundo. Segundo analistas, uma corretora de um grande banco teria comprado grandes lotes de Ibovespa futuro, na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F). Já os investidores que venderam o índice futuro para essa corretora compraram na Bovespa os papéis que fazem parte do Ibovespa, fazendo uma típica operação de renda fixa, com a diferença entre os mercados futuro e o à vista.
Empurrão público
As ações do setor imobiliário lideraram as altas de ontem. As ordinárias (ON, com direito a voto) da Cyrela Realty subiram 33,54% enquanto as ON da Gafisa se valorizaram 29,53%. Os investidores se animaram com a notícia de que o governo deve divulgar hoje uma ajuda em torno de R$ 3 bilhões para as companhias de construção civil. O objetivo é reforçar o capital de giro dessas empresas e garantir que terão fôlego suficiente para levar a frente todos os projetos que estavam previstos. Vale lembrar que as ações de construtoras estão entre as que mais caíram nas últimas semanas, portanto, possuem um bom espaço para possíveis valorizações.
Daniele Camba é repórter de Investimentos
E-mail: daniele.camba@valor.com.br

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