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sexta-feira, 18 de março de 2011

Em 10 anos, yuan desafiará papel do dólar

Em 10 anos, yuan desafiará papel do dólar - Michael R. Crittenden | Dow Jones, de Washington 18/03/2011

Barry Eichengreen, professor de Berkeley: "Não fará sentido que o dólar seja a única moeda verdadeiramente global"
Nos próximos dez anos, o yuan chinês poderia ser usado com abrangência suficiente para desafiar o papel do dólar como principal moeda de reserva mundial, o que talvez coincidiria com o enfraquecimento da moeda dos Estados Unidos, segundo afirmou Barry Eichengreen em entrevista ao "The Wall Street Journal".

Eichengreen, professor de economia na University of California Berkeley, disse que o processo de mudança que corrói o lugar do dólar como moeda dominante mundial será alimentado pela ascensão projetada para a economia chinesa e pelos avanços tecnológicos que tornam instantâneas as comparações de divisas.

"Não fará sentido que o dólar seja a única moeda verdadeiramente global", disse Eichengreen. "Em um mundo em que é possível comparar os valores das moedas em seu smartphone, é mais fácil a coexistência de várias moedas verdadeiramente internacionais."

A China terá de tomar várias medidas antes disso se tornar realidade. Entre os passos está o encorajamento às firmas para que façam a liquidação das transações do dia a dia em sua moeda e abrir gradualmente os mercados financeiros, especialmente para investidores estrangeiros. O passo final: Pequim terá de convencer os bancos centrais estrangeiros a deter depósitos e bônus denominados em yuans.

"Continuo pensando que, daqui a dez anos, é um horizonte realista que sua moeda seja usada de forma generalizada", disse.

Não seria necessário para a China abrir mão de controlar sua taxa de câmbio, uma das principais metas das autoridades monetárias dos EUA.

"Eles não precisam de uma taxa de câmbio de livre flutuação [...], mas terão de administrá-la de uma forma mais flexível", disse Eichengreen.

A transformação do yuan poderia ocorrer ao mesmo tempo em que o dólar passa pela seu próprio desenvolvimento, cedendo algumas das vantagens que proporcionou ao governo e empresas dos EUA por ser a moeda mundial dominante. Isso poderia tornais os negócios da empresas e bancos dos EUA mais caros e complicados, disse Eichengreen, especialmente quando os EUA são obrigados a ampliar as exportações como parte de um reequilíbrio econômico mais amplo.

"Uma parte [do processo] para conseguir isso será tornar as exportações dos EUA mais competitivas, precificando-as nos mercados internacionais, e um parte do processo será um dólar um pouco mais fraco", afirmou.

O declínio do papel do dólar internacionalmente pode trazer um benefício secundário aos EUA. Pode forçar as autoridades monetárias dos EUA a reavaliar a situação econômica doméstica e resolver os problemas fiscais, sugeriu Eichengreen.

A crise financeira de 2008 foi provocada em parte pela disposição dos investidores estrangeiros em despejar dinheiro no sistema financeiro americano, encorajando, por sua vez, os excessos que quase levaram ao colapso do sistema. Qualquer grau de relutância por parte de governos e investidores estrangeiros em repetir esse processo, em parte por um dólar mais fraco, seria positivo, disse.

"A disciplina dos mercados será sentida mais intensamente nos EUA e, se nós voltarmos a ficar inclinados a escalar até alguma extremidade financeira, os investidores estrangeiros não nos permitirão fazer isso tão livremente", afirmou Eichengreen.

O professor reconheceu que ambos os cenários, para China e EUA, têm seus riscos, particularmente tendo em vista o estado de incerteza da recuperação da economia mundial. Qualquer declínio profundo na expansão chinesa poderá levar a várias consequências sociais e financeiras que poderiam tirar dos trilhos o avanço do yuan a um papel internacional mais importante. Nos EUA, deixar de tomar medidas para domar os déficits e as dívidas poderia ser "gravemente prejudicial".

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