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quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Nossa economia na próxima década - Luis Carlos Mendonça de Barros

21/02/2011


Como analista, habitualmente concentro minha atenção no que chamamos curto prazo. Esse comportamento acentuou-se muito nos últimos anos, na medida em que a economia brasileira deixou seu vôo solo e neurótico do passado para integrar-se no mundo econômico global dos dias de hoje.

Acompanhar o que acontece no Brasil, sem estar atento ao pulsar da economia americana, da chinesa e da Europa Unida entre outras, é contratar erros brutais de avaliação.

Apesar de estar cada vez mais focado no futuro imediato, procuro periodicamente olhar para um horizonte de tempo mais longínquo. Esse olhar mais distante é importante porque transformações estruturais nas sociedades modernas só podem ser visualizadas - e, portanto entendidas - a partir de observações que cubram pelo menos um período de dez anos.

Vejam o que vem acontecendo no Brasil, depois que em 1995 o Brasil de Fernando Henrique Cardoso rompeu com o passado e colocou a economia no rumo certo de crescimento. Embora o discurso de Lula - e seus companheiros do Partido dos Trabalhadores - procure assumir totalmente a paternidade de uma nova economia, a opinião pública conhece bem a natureza partilhada do sucesso de hoje. Mais do que isso. Os brasileiros sabem que sem as reformas e os novos rumos trazidos pelo plano Real, os anos Lula teriam sido totalmente diferentes. Tivessem os eleitores invertido a sequência desses dois presidentes e estaríamos ainda amargando um crescimento medíocre na economia.

Mas vamos deixar o resgate da verdade para outro momento e voltar nossa atenção para o Brasil em 2020. Para isso vou tomar emprestado um trabalho dos economistas do banco Itaú sobre a economia brasileira nos dez anos à nossa frente. Não tome o leitor do Valor estes números como uma projeção definitiva, mas apenas como um dos cenários que podem ocorrer ao final da década que estamos vivendo.

As previsões de Ilan Goldfajn e seus companheiros partiram das seguintes premissas básicas: um crescimento do PIB médio de 4,6% ao ano, um superávit primário passando de 2,5% em 2011 para 1% do PIB a partir de 2015 e juros Selic - descontada a inflação - convergindo para uma taxa de 4,5% ao ano. No cenário externo a equipe do Itaú trabalhou com um crescimento médio da economia mundial de 4,2% em 2011, 3,9% entre 2012 e 2015 e 3,7% no restante da década. São números possíveis de ocorrer, apesar de os críticos de sempre poderem argumentar que não está previsto neles nenhuma possível crise internacional. Mas como disse anteriormente, meu objetivo é apenas o de refletir sobre o que pode acontecer para nós brasileiros em um cenário benigno como esse e não concorrer ao prêmio melhor previsão da década.

Uma primeira informação chama a atenção do leitor: a renda média dos brasileiros dobra em uma década, passando dos atuais US$ 10.800,00 estimados para 2010 para mais de US$ 22 mil em 2020. Essa renda per capita projetada mostra que passaremos a fazer parte de uma classe média alta no mundo do futuro. A França tem hoje uma renda igual a essa e a poderosa Alemanha uma que é apenas 10% maior. Essa trajetória terá repercussões importantes na composição da economia brasileira, como pode ser observado nos países que passaram por esse processo anteriormente.

O atual governo terá a oportunidade de reduzir sua participação na economia e viabilizar a reforma tributária

Outra observação importante desse trabalho é sobre a questão da pobreza, uma das prioridades da presidente Dilma. No cenário construído pelo Itaú, os brasileiros que já estão inseridos na dinâmica dos mercados terão a melhora de vida naturalmente ligada ao crescimento do emprego e de sua renda pessoal. Os esforços do governo devem estar voltados, portanto, para os brasileiros ainda excluídos do que chamamos de economia de mercado. Para estes o foco deve estar voltado para a criação de mecanismos que visem facilitar e antecipar essa integração.

O caminho natural que se abre para essas ações é o de aumentar os vínculos entre os programas sociais tipo Bolsa Família e os de reforço da escolaridade e de treinamento profissional de nível médio. Usando uma imagem simples, as ações do governo devem estar voltadas para que esse grupo de brasileiros possa surfar na onda de crescimento que vem pela frente e da qual está excluído até hoje.

Outra observação é a de que o governo terá uma oportunidade única de, nos próximos anos, reduzir sua participação na economia e viabilizar a tão esperada reforma tributária. Com o crescimento da economia assegurado pelo consumo e investimentos privados, o governo pode usar parte do aumento dos impostos para reduzir a carga fiscal das empresas. Basta uma redução dos gastos correntes e dos investimentos em certas áreas - e que podem ser assumidos pelo setor privado - para que o governo tenha espaço suficiente para abrir mão dos impostos mais perniciosos à dinâmica privada.

Se um cenário como o projetado pelos economistas do Itaú se realizar teremos uma oportunidade única para colocar o Brasil no mundo desenvolvido. A responsabilidade do governo Dilma para a viabilização dessas mudanças é muito grande e será certamente cobrado pela sociedade.

Luiz Carlos Mendonça de Barros, engenheiro e economista, é diretor-estrategista da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações. Escreve mensalmente na 3ª segunda-feira do mês.

2 comentários:

Elaine corridoni disse...

Obrigada. Quero voltar para casa :)
Elaine

Jane Zogbi Corona disse...

Volte Elaine: muitas oportunidades aqui. beijos Jane